Indulgências
Abruptamente, a noite desceu
Cruzou o Globo
Rodou, ruiu e riu da infâmia de ser sol.
Queimou, ela, a linha tênue das verdades.
Separou e uniu as singularidades de ser só
Só eu
Só meu
Só teu
O silêncio grita das janelas fechadas.
Nas ruas, os vácuos de ser chão, céu chuva, choro, visível permanecem abertos.
Vai, voa, veemente, o vírus no alarido da cegueira.
De joelhos, os cantos, as danças, as tintas sintonizam-se para recompor a nota harmônica de uma melodia destoada com os rios, as florestas, o ar, com o círculo plural.
Alvitram o ontem, tantas quimeras.
Obsecram as indulgências.
Expurgam-se para tornarem -se incólumes
De uma memória breve
que se vai como a noite.
Poema publicado em: Pandepoesia: primeiros dias de quarentena - Ruído Manifesto (ruidomanifesto.org)
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