Gestado
pelo Jaçanã
Ruas bifurcadas que não chegam mais às esquinas
encharcadas de transeuntes.
A escassez de gentes com a pulsação acelerada
deu lugar a maciças ideias de verdejar o labor.
Em casa, as crianças sorriem, gritam, choram,
brincam e saem.
Já não há mais o temeroso
Invisível suspiro que toca e afasta as mãos e
anula os abraços.
É tempo de aproximação.
As máscaras (re) existem nos rostos daqueles
que outrora não ouviam o canto pandêmico dos loucos das janelas.
Tantas balbúrdias afrontosas sobre uma
inexistência que só os olhos de quem era tocado por Bertold Brecht poderiam ver
o mar de tubarões em busca de peixinhos que ficariam à deriva ou seriam
sufocados.
Respirou-se como pode.
Asfixiou-se onde estavam.
Depois, ressurgidos, continuaram pássaros e
peixes cantando uma nova melodia para loucos dançarem.
Hoje, talvez os tubarões tenham menos fome.
A linha tênue das (in) certezas não permite
mais a abundante mordida.
Verdejou.
A cor da fé é caleidoscópica.
O milagre vai ser gestado pelo Jaçanã que
caminha sobre as águas.
Ele vai nos apresentar os filhos renovados pelo
invisível avassalador.
Não hesite.
Se voltar, tornar-se-á isolado e afundará na sua
coletividade desumana.
Márcia Dias
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