Entrevista com o autor da Obra " O trem das almas", Simon Oliveira dos Santos

ENTREVISTA CONCEDIDA À MÁRCIA DIAS, NO DIA 05 DE JUNHO DE 2020. 

01) Simon Oliveira é natural de Nova Mamoré, mas podemos te chamar de “amazônida, filho da ferrovia”, explique-nos sua ligação com os sentidos que se estabelecem com esses termos. 

R. Cresci neste contexto Amazônico do “Berço do Madeira”, composto pela Estrada de Ferro Madeira Mamoré, Vila Murtinho, Iata e Guajará-Mirim, uma vasta região produtora de seringa e castanha, habitada pelos povos indígena, que vivenciavam muitos conflitos, e lutando contra inúmeras doenças tropicais como a Beribéri, o Impaludismo, a Maleita, a Leishmaniose, entre outras. Este é o cenário de onde extraio as narrativas de homem amazônico, filho da ferrovia. 

02) A obra “O trem das almas” foi sua primeira experiência com a escrita? De onde vem essa técnica de escrita? Quais autores te influenciaram? Como é seu processo de escrita? 

R. Bom, sempre publiquei artigos e materiais jornalísticos para jornais impressos e depois para sites regionais. O “Trem das Almas”, foi sendo gestado simultaneamente a estas publicações, e em 2012 escrevi o primeiro conto “O Padre de Preto”. Minha técnica foi sendo lapidada ao longo de minha trajetória como estudante do ensino básico e depois com um pouco mais de refinamento, na Universidade, quando tive contato com bons professores e acesso a autores que até então desconhecia. Meu processo de escrita depende literalmente do “Outro”, escrevo a “quatro mãos”, em permanente troca de experiências e vivências. Deste “pensar coletivo”, extraio o que vou escrever. Em especial, extraio do Gabriel Garcia Márquez, autor de “Cem anos de solidão”, tintas que compõem meu mundo fantástico no Berço do Madeira. O estilo despretensioso e simples de contar histórias do escritor americano Ernest Hemingway, na sua magistral obra “O Velho e o Mar”, me cativa. Ele consegue ser universal e acessível, usando uma linguagem tão coloquial que até nos intriga. 

03) Quando pensou em escrever a obra “ O trem das almas” foi em homenagem aos grandes contadores de história de sua região? Qual relação que tens com essa arte de contar história oral que você transpõe tão bem para a escrita? 

R. Desde criança, convivi com excelentes contadores de histórias. Meus pais (Antônio e Safira), meu tio Chiqunho Leôncio, meus vizinhos Severino Inácio da Rocha e sua esposa Maria Inácio, e seu filho Mota Inácio da Rocha, entre tantos outros. A oralidade foi a porta por onde entrei neste mundo fértil e imaginativo dos contatores de história. Ficava extasiado com os personagens, cenários, alegorias, gestos e palavras que me conduziam a um mundo imaginário, mas também real. Muitas destas histórias tinham como pano de fundo os seringais, os castanhais, os índios, onças e as caçadas, todos de alguma forma conectados com a Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Todo esse painel está indelevelmente grudado à minha escrita.

 04) Que dica você daria para quem, como você, queira escrever sobre sua região, suas memórias, ou seja suas experiências de vida? 

R. Sobre A Escrita, o poeta e filósofo francês Paul Valéry, afirmou: “entre duas palavras, escolha sempre a mais simples”. Escreva dando voz às palavras da infância e do mundo familiar, está tudo neste contexto, basta organizá-las e dá-lhes um sentido de conjunto. “ Com um simples olhar de nossa mãe, se pode iniciar um conto, um romance”. 

05) Você pretende escrever outros livros, tem projetos para a divulgação de sua literatura em outros espaços? 

R. Na verdade, o “Trem das Almas” é a primeira parte de uma trilogia que abordará os três primeiros ciclos econômicos da nossa região: Ciclo da Borracha; Ciclo do Garimpo no Rio Madeira e por último, o Ciclo da Madeira. Sobre a divulgação do “Trem das Almas”, vamos ampliar sim os canais de divulgação em Blogs, como no caso do seu, sites específicos sobre literatura regional, Universidades, escolas públicas, programas televisivos, entre outras mídias. 

06) Imaginemos que você construiria um trem de leituras e esse trem teria 10 vagões, em cada vagão, você deixaria um livro para ser lido, quais seriam? 

01. Cem Anos de Solidão – Gabriel Garcia Márquez 
02. O Velho e o Mar – Ernest Hemingway 
03. Vidas Secas – Graciliano Ramos 
04. Sagarana – João Guimarães Rosa
05. Adivinha Quanto Eu Te Amo – Sam Mc.Bratney 
06. Capitães da Areia – Jorge Amado 
07. O Povo Brasileiro – Darcy Ribeiro 
08. Meu Pé de Laranja Lima – José Mauro de Vasconcelos 
09. Morte e Vida Severina – João Cabral de Melo Neto 
10. O Amor nos Tempos do Cólera – Gabriel Garcia Márquez

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