CAÇADO COM BOA RAZÃO

Cresci como filho de gente rica. Meus pais deram-me uma gravata e me educaram nos hábitos de ser servido. Ensinaram-me também a arte de mandar. Mas quando cresci e olhei em volta não gostei da gente de minha classe, nem de mandar nem de ser servido. E deixei a minha classe, indo viver com os deserdados. Deste modo, criaram um traidor. Ensinaram-lhe as suas artes, e ele passou para o lado dos inimigos. Sim. Eu revelo segredos. Estou no meio do povo e relato como eles o enganam. Prevejo o que virá, pois estou a par de seus planos. O latim dos padres venais traduzo palavra por palavra na linguagem comum. Assim todos vêem os seus disparates. Pego nas mãos a balança da justiça e mostro os falsos pesos. Os espiões me delatam, revelando que estou ao lado das vítimas quando se dispõem a atacá-las. Eles me advertiram e me tomaram o que tinha ganho com meu trabalho. E como não melhorei, começaram a caçar-me. Mas em minha casa só encontraram escritos que denunciavam seus atentados contra o povo. Emitiram então contra mim um mandado de prisão, acusando-me de idéias subversivas, isto é, da subversão de ter idéias. Aonde chego sou estigmatizado pelos proprietários, mas os deserdados sabem do mandado de prisão e me escondem. Dizem: A você eles estão caçando com boas razões. Bertolt Brecht

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