Calcinha e segredo só revelamos para quem confiamos

Certa vez ouvi uma frase que dizia: se quiser descobrir segredos, preste atenção nas coisas pequenas, nas miudezas. Na verdade, este “descobrir segredos” passa longe das investigações daqueles mistérios que só Sherlock Holmes, investigador de uma famosa série britânica do século XIX e XX e os investigadores da série CSI descobririam. Aqui, refiro-me à segredo sendo àquilo que me separa do outro, que me torna singular, única, para melhor traduzir, aquilo que só eu tenho, que me define, que me constrói. E estes segredos, em parte, são revelados à medida que vamos vivendo, pois vamos dando “pistas” de quem somos, ou de quem estamos, pois somos mutáveis. Nossas singularidades também vão mudando. É como se fôssemos camaleões, vamos nos adaptando ao mundo ao qual nos inserimos. Percebe-se isso, claramente, considerando a evolução da espécie humana. Podemos perceber isso também observando a evolução da calcinha. Eis uma metáfora interessante: a evolução da calcinha. De acordo com a escritora Rosemary Hawthorne é uma invenção francesa do século XIX. Ah, os franceses, mal sabiam eles que estavam criando um objeto que se tornaria uma parte fundamental para aguçar a imaginação humana. Quando criada, a calcinha era chamada de calção e não é preciso muita imaginação para entender o porquê do nome. À medida que o pensamento da sociedade foi mudando, os gostos, desejos, opiniões, crenças e valores, os modelos das calcinhas também mudaram. E calcinha é como segredo, só é revelada para aqueles que queremos. Só mostramos nossas calcinhas para pessoas íntimas, por isso o nome “peça íntima”. E para cada ocasião, temos um modelo, uma cor, como um ritual. Como as calcinhas, as pessoas querem descobrir os segredos uma das outras e essa descoberta é bem instigante, pois sabendo o segredo de alguém, você a desnuda. Você a vê sem roupa. Alguns querem nos arrancar até as calcinhas, ou seja, querem saber tudo que ocultamos. Ah, e há aqueles que descobrem as cores dos nossos segredos e querem nos definir com suas análises. Dependendo do segredo, olha-nos com um olhar diferente. Ah, usa calcinha rosa? Está à procura de um homem romântico! Usa calcinha branca? É muito pura, honesta! Usa calcinha preta? É uma pessoa muito misteriosa. E a pior análise: usa calcinha fio dental? Está com lugar certo no inferno e esse destino fatal independe da cor. O certo é que calcinha e segredo só revelamos para quem confiamos. Para aquelas pessoas que, de fato, prestam atenção nos nossos detalhes. Nas miudezas de nossas vidas. E é necessário também estarmos atentos a essas pessoas. É necessário descobrir o segredo da confiança. Quem fica feliz com sua felicidade? Quem se entristece contigo? Quem segura sua mão quando muitos partem? Quem te suporta nas piores fases? Quem te aceita e se ajeita para que vocês se caibam um na vida do outro? Quem te ajuda a ser melhor a cada dia, revelando-te, inclusive seus desajustes? Essas pessoas merecem ver nossas calcinhas ou melhor merecem estar em um lugar de privilégio em nossa vida que é o lugar da confiança. A regra é simples: como suas calcinhas, revele suas intimidades a poucos, assim, você não correrá o risco de que algumas pessoas, após seus segredos revelados, partam levando consigo suas calcinhas, ou melhor, os seus segredos.

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