Alguém quer pendurar o Guizo?

Os últimos acontecimentos na educação do Estado de Rondônia me fizeram lembrar um clássico de La Fontaine , famoso fabulista. O texto fala sobre um gato que andava fazendo estragos na rataria de uma casa velha e os ratos reuniram-se em assembleia para resolver o problema. Os discursos começaram a surgir e uma ideia foi aplaudida com veemência . A sugestão propunha que pendurassem um guizo ao pescoço do gato. Assim, quando ele se aproximasse, o guizo o denunciaria e os ratos fugiriam a tempo. Palmas e assovios saudaram a luminosa ideia. O projeto quase foi aprovado por unanimidade, todavia um rato bastante casmurro pediu a palavra e disse:
- Está tudo muito certo. Mas quem vai amarrar o guizo ao pescoço do gato?
Silêncio geral. Um desculpou-se por não saber dar nós. Outro, porque não era tolo. Todos, porque não tinham coragem. E a assembleia dissolveu-se no meio de geral consternação.
Infelizmente, é assim que muitas pessoas se comportam diante de situação que exige de nós, cidadãos de bem, trabalhadores, uma postura ativa, que demonstraria a força de uma classe que há tempos vem decaindo financeiro e moralmente.
Não opinar a respeito da situação é omitir-se, compactuando com as políticas educacionais. A escola é um espaço onde as reclamações acerca de trabalho, salário são frequentes. Quem nunca ouviu a frase “ Os professores são mal pagos.” “ As salas de aula precisam melhorar a estrutura.” E quem não gostaria de receber um pouquinho a mais? Auxílio transporte, auxílio alimentação? Seria muito bom! É revoltante pensar que estamos brigando porque o governo acha que dar um aumento de 15% aos professores seria um exagero, algo impossível.
Dentre muitas inquietações com a situação, o que mais me entristeceu foi a falta de atitude. Assim como os ratos, queremos que os problemas sejam resolvidos, mas ninguém quer pendurar o guizo. Na verdade, não temos que ter apenas um com coragem de amarrar o guizo, mas sim todos, JUNTOS, com a força que vem de nossa união, poderemos contribuir para a conquista.
Peço a Deus que não me deixe esmorecer e nem desacreditar de que a valorização da educação vai acontecer. Tento ser uma rata corajosa. No entanto, forças vêm como grandes ondas contra nossas perspectivas. Sermos “condenados” a pagar 200,00 reais pela ausência no trabalho, enquanto nossa presença vale 50, 00 reais, é, além de revoltante, engraçado!
Tem uma música, que detesto, cuja letra é totalmente o oposto daquilo que vemos. É a velha questão teoria e prática. A letra diz que a base de toda conquista é o professor. Conquista? Quais? Para os outros? E as nossas? Ninguém vive só de admiração. Não que não seja importante, mas só isso não basta!
Hoje, em nossa sociedade, a profissão Professor, falo daquele que está realmente fazendo a educação acontecer lá na sala de aula, a exemplo de minha querida e amada amiga Tia Luíza, doce Luíza, está enfraquecendo de uma forma que não há quem sonhe em ser um.
Os nossos anseios só poderão ser conquistados, quando tivermos objetivos comuns. NÓS, profissionais da Educação, pais, alunos, sociedade, POLÍTICOS, temos que ter objetivos afins. Porque não dá para cada um objetivar um caminho, uma luz a ser alcançada. Faço das palavras do Pe Fábio de Melo as minhas quando ele diz que nós estamos todos num mesmo campo. Há em cada um de nós uma essência que nos orienta para o verdadeiro lugar que precisamos chegar, mas nem sempre realizamos o movimento da procura pela luz.
Sendo assim, enquanto não aparecerem ratos que busquem mudanças e com coragem de amarrar o guizo, a humanidade continuará caminhando sem rumo definido.

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