Quando o peso é dividido, não sobrecarrega ninguém

À vezes, questiono-me em como será o processo educacional daqui a uns 10 anos. Fico pensado na atualidade e na evolução. A preocupação me toma e me consome.
Nós, que participamos deste processo, estamos vendo a queda brusca da educação e ficamos em busca de achar culpados.
Alunos culpam professores, professores culpam alunos, pais culpam professores, professores culpam pais, governo culpa professores, professores culpam governo. É complicado avaliar nessa reciprocidade quem realmente está certo.
Nossa tendência é sempre avaliar do nosso ponto de vista e essa visão não é introspectiva, mas sim externa. Ela parte de um ponto para outro, por isso avaliamos esse outro e não nos colocamos neste processo avaliativo.
Engana-se alguém que pensa que podemos sair do processo de avaliação quando algo vai mal. Eu, enquanto educadora, entendo que faço parte do problema. Dou minhas contribuições para que as coisas deem certo, todavia também para que deem errado.
É muito fácil fazer análise quando estamos fora da realidade. Indigno-me quando ouço conceitos dos tipos : “ Todo mundo já passou pelas mãos de um professor”. “ A educação é a base de tudo.” Não que não sejam verdades, são sim. Porém qual é, na verdade, a importância da educação e do professor para a sociedade?
Penso que a escola perdeu sua função primária: a de dar ao aluno o direito de ampliar seu conhecimento. Digo isto porque, na escola, o menos importante hoje é o aluno adquirir conhecimento. O aluno é avaliado não pelo fato de ter absorvido um conhecimento, mas sim porque tem caderno, tem bom comportamento, tem assiduidade, imagine, ele ganha ponto porque veio à escola!
Sem falar nas estruturas das salas de aulas que se transformaram em fornalhas. Com o aquecimento global, nossas tardes não são mais as mesmas, as manhãs, mesmo quentes, são mais amenas. Ventiladores precários que trabalham em uma velocidade de 10 km/h. É desumano falar em aprendizagem em um lugar totalmente impróprio. Falar que educação é prioridade quando colocamos 40 alunos dentro de uma sala, para que um professor seja psicólogo, orientador, apaziguador (de brigas) , pai e mãe, pois o conceito hoje de educação que escola oferece está distorcido, já que temos que ensiná-lo a não xingar, não brigar, respeitar o outro, e pior de tudo, é ter que obrigá-lo a estudar.
Quando falo em peso, não é com um sentido pejorativo, de coisa ruim, mas sim com sentido de responsabilidade, pois, para mim, dar aula é um prazer. Porém temos que ter condições que proporcionam essa gratificação.
Ficamos ouvindo discursos surreais sobre educação. Não acredito em possibilidades, acredito em ações, essas sim podem ser avaliadas.
É interessante ver que as pessoas que não participam das ações, da prática mesmo, não percebem a seriedade do problema das escolas. Vemos quase todos os dias nas emissoras de televisão reportagens relatando fatos negativos dentro das escolas e soluções, ações práticas, ninguém tem.
E quando vemos o quadro de fracasso da educação, perguntamos:
- De quem é a culpa?
Na verdade, deveríamos perguntar:
- De quem é a obrigação?
Nós, professores, ansiamos por dignidade em sala de aula, ampliação dos recursos estruturais. Salas com menos alunos. Sala climatizada. (Isso não é luxo é necessidade). Alunos com responsabilidade e que queiram estar na escola. Famílias sendo responsáveis pela educação familiar, porque da ampliação do conhecimento cuidamos nós professores. Assim como os gestores devem querer professores comprometidos com o trabalho, atualizando-se, fazendo cursos, sendo pontuais, responsáveis, respeitando suas funções.
Não existe receita mágica, pronta e acabada para o sucesso da escola. Mas acredito que quando todos cumprem com sua função não tem como dar errado, pois quando o peso é dividido não sobrecarrega ninguém.

Texto publicado em http://www.portalmamore.com.br/?pg=noticia&id=465

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